domingo, 4 de setembro de 2011

Belo Horizonte - a cidade envergonhada

Há algum tempo venho percebendo que Belo Horizonte vem piorando muito nesta atual gestão da PBH. São inúmeros os problemas que se tornaram frequentes e que vem aflingindo mais e mais os moradores da capital mineira.

Como trabalhava no Centro, a primeira coisa que observei foi o enorme aumento de moradores de rua e, incluvise, usuários de drogas, não somente naquela região, mas também nos bairros mais próximos. Alguns pontos, como o que fica na Av. do Contorno, abaixo da estação do metrô, bem em frente a Rodovidária, estão lotados de moradores de rua. O que costumava ser um movimentado ponto de ônibus, agora é moradia para 30 a 50 pessoas que dormem sem nenhuma dignidade na calçada. A impressão que tenho é que:
 - Os abrigos para moradores de rua não funcionam, ou estão fechados, mas não ouvi falar de nenhum aumento na quantidade destes abrigos, tendo em vista o aumento do número de moradores de rua;
- Belo Horizonte passou a receber uma quantidade imensa de retirantes, mas não soube de nenhuma ampliação no movimento migratório ou coisa parecida.

O problema, é que essa quantidade enorme de gente dormindo nas ruas, vem a sujeira, a violência e as drogas. Os grupos de usuários que ficavam limitados a alguns pontos da capital - como a Cracolândia, próximo ao conjunto IAPI - agora podem ser encontrados em vários outros locais da cidade, inclusive próximos a escolas.

Outro aspecto que ficou mais evidente são os pontos de prostituição na Av. Afonso Pena. Se antes eles existiam na área onde os belo-horizontinos chamam de Alto da Afonso Pena, agora eles se estendem até a proximidade do Instituto de Educação.

Mais um problema que eu não consigo entender é a presença dos hippies no quarteirão fechado da Rio de Janeiro, entre Rua dos Tamoios e Av. Afonso Pena. Eles eram cinco, agora já são quase duas dezenas e a cada dia o número aumenta. O local que foi revitalizado há alguns anos agora está sujo, depredado e é quase impossível passar por lá sem ser abordado pelos hippies. O que não consigo entender é como a PBH conseguiu tirar os camelôs, que estavam trabalhando, e não conseguem tirar os hippies que promovem a sujeira, a desordem e também usam drogas - maconha basicamente - a qualquer hora do dia.

O trânsito é outro ponto que só fez piorar. A hora do rush agora vai de 7h30 às 9h30 da manhã, em qualquer uma das regiões da cidade. Na volta pra casa, a mesma coisa, o congestionamento vai de 17h30 às 19h30. Os ônibus estão sempre lotados, sendo que os carros estão ficando velhos e nenhum sinal de renovação da frota. Fora quando a 'esperta' da Bhtrans não reduz o número de ônibus circulando alegando 'demanda'!

Mas o motivo deste post não é somente fazer um desabafo, mas comentar sobre a coleta de material reciclado. Uma amiga comentou na semana passada que BH não tem mais condição de processar todo material reciclado produzido. Experimentei isso ao vivo e em cores. Agora que trabalho no Santa Efigênia, tenho que levar meu lixo para reciclar para o centro, entre 8 e 8h30. Já experimentei dois pontos de coleta: O que fica atrás do Minascentro na Av. Bias Fortes. Ele está um nojo, não há outra definição. Além da quantidade enorme de lixo no chão, já que o material não cabe mais nos latões que estão lotados, o lugar é uma espécie de banheiro público.

Passei a levar para outro ponto próximo: Rua dos Timbiras, quase esquina com Rua Santa Catarina. E a cena foi semelhante: latões lotados e lixo acumulado no chão, atingindo quase a altura dos latões. São não é pior devido a proximidade ao templo maior da IURD, o que deve desestimular quem poderia usar o local como banheiro. Já passei de ônibus em frente ao posto de coleta da Praça da Assembléia e o cenário não é muito diferente. Uma vez, levei material para o posto que fica na Rua Bernardo Guimarães, em frente a Jari. E foi a mesma coisa: latões lotados e o lixo sendo colocado no chão mesmo.


Neste final de semana, resolvi levar o material para a Unidade de Recebimento de Pequenos Volumes (URPV), localizada à Av. Barão Homem de Melo, 300 - Bairro Jardim América. E o que encontrei foi uma situação alarmante. Todos os latões estavam lotados, o lixo acumulado no chão quase alcançando a altura dos latões e as caçambas para entulho abarrotadas. O funcionário da SLU que trabalha no local, informou que a situação é ainda pior na segunda-feira pela manhã, além de tudo que está dentro da Unidade, também há aculumo de lixo na calçada, na entrada do local. É tanto lixo que já coloca em risco a saúde dos moradores da rua Cacuí, onde fica a entrada da Unidade. O funcionário informou que o acumulo está ocorrendo porque foi reduzido o número de caminhões que fazem a coleta do material, apesar do aumento da quantidade descartada pela população.

E esta cidade que vai receber jogos da Copa? Uma cidade que não respeita sua população, que não dá condições dignas para quem já não tem nem onde morar, que não dá condições de segurança e transporte para quem vai trabalhar, que não consegue nem processar a quantidade de lixo reciclável que produz? 

Qualquer estudante de ensino médio sabe que o investimento na indústria de reciclagem só gera benefícios para as cidades, diminuindo a quantidade de lixo nos aterros sanitários, deixando a cidade mais limpa, preservando a natureza, movendo a economia e, talvez mais importante, gerando emprego e renda para pessoas muito pobres, que coletam lixo para sobreviver e não tem preparo e nem condição para buscar uma alternativa melhor. Por que a atual gestão da PBH prefere ver o problema aumentar e chegar a condições insustentáveis antes de tomar uma providência? A prevenção sempre foi uma política muito mais inteligente e econômica do que 'correr atrás do prejuízo'.

Belo Horizonte, minha cidade, está abandonada, largada, maltratada. Virou tabuleiro no jogo eleitoral e nós, meros peões. Uma imensa vergonha, mas parece que somente os moradores é que percebem e tem que conviver com isso...

Um comentário:

rOsI disse...

É, eu acho que você pontuou bem. Além do descaso com os movimentos culturais (lembremos da "Praia" da estação) ainda temos que conviver com todas essas questões que são de saúde pública básica. Pra quem ainda tinha dúvidas sobre essa gestão, os tapas estão vindo aos montes, à olhos vistos.
Eu sei que um dos projetos da Arquidiocese de BH é tentar diminuir o contingente de pessoas, principalmente no entorno da Rodoviária (digo que sei porque um dos meus clientes é apoiador do projeto Fundo Social). Mas desde que fui à Arquidiocese conversar sobre o projeto (que tem anos) isso já era um problema de grandes proporções. O que nos leva a pensar em outra coisa grave: mais pessoas estão abandonando cidades pequenas e vindo tentar a vida na capital. E a capital não consegue cuidar nem dos que aqui estão. Um abraço e muito obrigada pelo texto.