(Fonte - http://drauziovarella.com.br/respirar/rinite-alergica/)
Rinite alérgica
João Ferreira de Melo Junior é médico otorrinolaringologista especialista em alergias.
1) O que é rinite alérgica?
O nariz é um dos componentes das vias respiratórias. Na verdade, é o
primeiro local por onde o ar passa até alcançar os pulmões. Dentre
outras atribuições, ele é responsável pela limpeza, umidificação e
aquecimento do ar inspirado.
Para exercer essa função corretamente, o nariz possui um complexo
mecanismo de defesa. Por isso, ao entrar em contato com alguma
substância tóxica, desencadeia uma resposta para impedir que essa
substância alcance os pulmões. O surgimento da obstrução nasal provoca o
bloqueio da passagem do agente agressor e, através dos espirros e
coriza, a remoção dessa substância. Essa reação é normal e todas as
pessoas, ao entrarem em contato com algumas substâncias tóxicas,
apresentam tais sintomas. Por isso, quando fica gripada, a pessoa
apresenta obstrução nasal, espirros e coriza, pois seu organismo está
tentando protegê-la, impedindo que os vírus alcancem seus pulmões
através do ar.
Alergia, na realidade, não significa falta de defesa do organismo. Ao
contrário, indica uma defesa exagerada contra agentes que não são
potencialmente agressivos ao ser humano. Ou seja, uma pessoa alérgica é
hiperreativa a determinadas substâncias que numa pessoa normal não
despertam nenhuma resposta.
O sistema imunológico das pessoas alérgicas, por características
genéticas, interpreta que determinada substância é tóxica, e que precisa
proteger o organismo contra sua entrada. Por essa razão, algumas
pessoas convivem normalmente com fatores que causam a alergia, como a
poeira de casa, sem ter sintomas, ao passo que outras pessoas, ao
entrarem em contato com essa mesma poeira, podem ter rinite e asma.
O paciente alérgico não nasce hiperreativo (com alergia), mas sim com
a capacidade de sensibilizar-se a determinado fator. Tornar-se sensível
significa passar a ter uma resposta de defesa a uma substância que
antes era tolerada. Isso significa que podemos conviver com determinada
substância por muitos anos, e vir a desenvolver sintomas apenas
tardiamente.
Essa característica é herdada dos pais. Quando um homem e uma mulher
alérgicos tem um filho, a probabilidade dessa criança ser alérgica é de
cerca de 50%. No entanto, mesmo que nenhum dos pais apresente alergia, a
criança ainda assim pode ter manifestações alérgicas, como rinite,
conjuntivite, asma e alguns tipos de alergia de pele. A forma mais
comum, porém, é a rinite. Cerca de 10% a 25% das pessoas sofrem de
rinite alérgica.
2) Quais os sintomas da rinite alérgica?
Os sintomas que os pacientes portadores de rinite alérgica apresentam
são obstrução nasal (entupimento), coriza, espirros (algumas vezes o
paciente espirra mais 20 vezes seguidas) e coceira no nariz. Essa
coceira pode ser na garganta ou nos olhos.
Todos os doentes apresentam tais sintomas minutos após o contato com o
alérgeno, e cerca de metade deles terão novamente sintomas cerca de 4 a
6 horas depois.
3) Quais as causas da rinite alérgica?
Poeira, pólen e alguns alimentos são substâncias que podem causar
alergia. Aqui no Brasil a poeira domiciliar é o fator de risco mais
importante. Ela é constituída por descamação da pele humana e de
animais, por restos de pelos de cães e gatos, restos de barata e outros
insetos, fungos, bactérias e por ácaros, organismos microscópicos da
família dos aracnídeos.
Existem vários tipos de ácaros. Entre todos, o que mais frequentemente está relacionado com a alergia é o
Dermatophagoides ssp., nome que significa “aquele que se alimenta de pele”, visto que uma de suas fontes de alimentos é a descamação da pele.
No colchão de nossas camas e nos móveis estofados de nossas casas,
podem acumular-se muitos fragmentos de descamação de pele. Exatamente
por essa razão, nesses locais, é grande a quantidade de ácaros,
aracnídeos que vivem nas camadas profundas dos tecidos, abraçados as
fibras. Ácaros não são capazes de viver sobre uma superfície lisa, por
exemplo, em paredes.
Em São Paulo e outras regiões do Brasil, onde não há clara definição
das quatro estações do ano, a forma de rinite alérgica que predomina é
causada por ácaros, e as pessoas alérgicas, em geral, apresentam
sintomas durante o ano inteiro. Já em outras regiões (como no sul do
País), na primavera, quando ocorre a polinização das flores, é comum
surgir um tipo de rinite alérgica chamada, nos países do hemisfério
norte, de febre do feno.
Apesar do nome, os pacientes não apresentam febre e tampouco o feno é
responsável pelos sintomas. Na verdade, são os fungos que proliferam
nos maços de feno as substâncias que desencadeiam os sintomas.
4) Como tratar rinite alérgica?
O tratamento dos pacientes portadores de rinite alérgica é composto por três pontos fundamentais:
a) Higiene ambiental;
b) Tratamento medicamentoso;
c) Vacinas antialérgicas.
a) Higiene ambiental
A forma mais simples de tratar alergia é evitar o contato com a
substância que desencadeia os sintomas. Por exemplo, se o paciente
apresenta obstrução nasal, coriza e espirros quando ingere determinado
alimento, o mais fácil a fazer é deixar de comê-lo.
O problema é que não é tão fácil evitar o contato com o ácaro, a
principal causa de rinite alérgica. No entanto, algumas medidas simples
podem ser adotadas para diminuir a proliferação desses insetos.
A casa e principalmente o quarto onde o doente dorme devem ser limpos
com bastante frequência. Infelizmente, vassoura e espanador de pó
apenas espalham o pó pelo ambiente. Os aspiradores são capazes de reter
alguma sujeira, porém normalmente seu filtro não é desenvolvido para
limpar o ar por completo. Infelizmente, muitas vezes, o que ele faz é
uma pulverização da poeira no ambiente. Aspiradores com filtros
especiais e de alta eficiência existem, mas têm custo elevado.
O ideal é que não existam carpetes, cortinas, tapetes, bichos de
pelúcia, almofadas, móveis e outros e utensílios que possam acumular
poeira nos ambientes em que os portadores de rinite vivem. Nesse caso, o
uso de pano úmido na limpeza é uma forma bastante eficaz para remover a
poeira.
Deve-se também evitar o uso e contato com travesseiros e almofadas de
penas. A utilização de capas protegendo os colchões e travesseiros,
assim como de substâncias para eliminar os ácaros do ambiente apresentam
eficácia quando aplicados corretamente.
Outro ponto importante a considerar é a existência de boa ventilação
na casa e no quarto. Em ambientes ensolarados, é mais difícil o bolor
(fungo) se desenvolver.
Outra medida fundamental é evitar o contato com substâncias capazes
de irritar o nariz. Perfumes, produtos de limpeza, produtos para deixar
os ambientes com odor agradável, fumaça de cigarro, tintas, inseticidas e
poluição, são alguns exemplos de substâncias capazes de irritar o
nariz, e desencadear sintomas. Outros fatores inespecíficos como as
mudanças bruscas de temperatura, frio e umidade do ar são igualmente
prejudiciais aos doentes com rinite alérgica.
b) Tratamento medicamentoso
A critério médico, se essas medidas não forem suficientes para
controlar os sintomas do paciente, poderemos recorer à indicação de
medicamentos.
Existem dois grandes grupos de drogas que podem ser usadas. Um tipo
funciona preventivamente e outro apenas alivia os sintomas.Do ponto de
vista farmacológico, dispomos de descongestionantes, anti-histamínicos,
estabilizadores de membranas, e corticosteroides.
Cada uma dessas drogas atua de forma diferente, e nenhuma é isenta de
efeitos colaterais que, algumas vezes, podem ser graves. Por isso, o
ideal, é não realizar automedicação e procurar seu médico.
c) Vacinas antialérgicas
Quando o tratamento feito nestas condições (higiene ambiental e
medicamentos) falha, pode-se associar o uso de vacinas antialérgicas.
Esse tratamento é longo, porém, quando feito corretamente, diminuí a
sensibilidade do doente àquela substância ao qual era alérgico. Muitas
vezes, chegamos ao ponto em que não há mais necessidade do uso de
medicamentos.
Alérgenos
A rinite alérgica pode causar outros problemas, como otites
(inflamação dos ouvidos), sinusites (inflamação de cavidades existentes
na face) e roncos (pelo entupimento do nariz) que interferem na
qualidade de sono do paciente. No entanto, ele só vai apresentar esses
sintomas, quando estiver em contato com as substâncias aos quais é
alérgico. Essas substâncias recebem o nome de alérgenos. Quanto maior o
contato, mais intensos tendem a ser os sintomas.
Normalmente o paciente com rinite alérgica só apresenta os sintomas
quando entra em contato com o alérgeno. Em geral, eles
são proporcionais à quantidade de alérgeno a que foram expostos. Na
época do inverno, costumam sofrer mais, pois acabam usando s cobertores e
roupas que ficaram guardados por muito tempo e podem estar cheios de
ácaros e fungos.
Além disso, esses doentes são mais susceptíveis a resfriados. Na
verdade, o resfriado é uma inflamação do nariz, que compromete os
mecanismos de proteção nasal, o que facilita a entrada dos alérgenos.